domingo, novembro 23, 2014

in memoriam

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Quando um homem interroga a água pura dos sentidos e ousa caminhar, serenamente, os esquecidos atalhos de todas as memórias, acontecem viagens — viagens entre o quase tudo e o quase nada.
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A maioria de quem segue a poesia falada reconhece-lhe a voz.

Mas José-António Moreira era também um escritor que, na sua timidez, não fazia eco disso.
Descobri a sua escrita por acaso, há anos, no PodCast do Sons da Escrita e fiquei impressionada com a sua sensibilidade.
Partilho, homenageando-o, um dos textos que, para além de outros, mais me impressionou.

(Desligar a música do blogue para ouvir o vídeo)


Branco


Falo de uma ave que imaginei em sonhos, uma ave de uma beleza indescritível, muito além da elegância de um cisne branco, de um branco neve, como se toda a luz que nele incidisse pudesse ser reflectida para os nossos olhos aflitos.
Gosto dos cisnes! Talvez a forma esbelta não justifique tudo, talvez não seja só o branco puro que impressiona a vista. Talvez seja só a branda calma com que se movimenta, quase parado no equilíbrio perfeito sobre as águas do lago que lhe ponho à volta.
O branco é uma luz intensa, como um sol, um sol onde está escrito o destino de tudo.
No branco está a pureza do encontro, a exaltação do desejo, o caminho, os atalhos, o reencontro, o futuro e a paixão.
Sobre o branco escreve-se o amor.


Ao JAM
in memoriam (1950-2014)
Obrigada por tudo o que fizeste pela Poesia.

5 comentários:

Cidália Ferreira disse...

Parabéns pelo fantástico texto

Beijos
http://coisasdeumavida172.blogspot.pt/

manuela barroso disse...

Embora não conheça José-António Moreira, pelo que li, uma homenagem mais que merecida. Branca era (é) também a sua grande sensibilidade.
Uma amiga assim, guarda-se assim, também num coração branco!
Beijinho meu Otília!

Manuel Veiga disse...

gostei de conhecer. beijo

Graça Pires disse...

O José-António Moreira também fez muito pela divulgação da minha poesia. Aqui o meu sentimento mais profundo pela sua partida e pela sua falta...
Beijo, MM

DE-PROPOSITO disse...

Eu costumo dizer que tudo é poesia. Assim como costumo dizer que não há pessoas más (deve haver aqui um contrassenso, mas que fazer).

Felicidades
MANUELz 4