sábado, setembro 30, 2006

Bom fim de semana...

Hoje de manhã recebi através do correio esta imagem cujo texto que a acompanhava, era o seguinte:
Meu Deus inspira-me e dá-me a alegria de escrever poesia. Estou tão desinspirada…
Não vou referir o nome e recordei um poema que escrevi há muito tempo. Fui em busca dele...
Aqui o deixo, porque todos nós temos dias desinspirados…
Imagem de autor desconhecido

Quis deixar
uma letra pequenina,
onde coubesse
o sol e o vento,
o humor e a alegria,
letra minha
que não fosse solidão
mas um pouco de
cheiro a maresia.
Mas a névoa
não deixa ver a letra
desinspirada
pelo abandono
de multidões
que nos deram tudo
e deixaram-nos
o nada.
Hoje
vagabunda
neste espaço
caminho lado a lado
sem letras.
Fechada, neste
tinteiro transparente,
esperando
que alguém
lhe tire a tampa
e que as palavras se soltem
diluindo
o vazio
que na mente
se instalou.
Palavras
voltem aqui
a este espaço
que conheceu
diálogos quentes,
música de ambiente,
mas que um vendaval
limpou e,
triste aqui
estou,
onde nem
a alegria entrou.
Senta-te aqui comigo,
dita-me palavras
murmuradas ao ouvido
da saudade
de ti,
de mim,
de todos,
aqueles
que nunca estiveram
fechados num
tinteiro transparente
mas que iluminavam este sítio
e a minha mente!

(27/07/2004)
Numa noite completamente desinspirada...


(P.S. - Em virtude do “acidente” com o meu template, muitos dos endereços aqui linkados desapareceram.
Aos poucos estou a tentar reconstruir tudo o que falta. Quem se sentir “desaparecido” é favor de se queixar. As minhas desculpas pelo sucedido.)

quinta-feira, setembro 28, 2006

Lugar aos Outros nº. 20...


São decorridos pouco mais de quatro meses que através do audioblog do Luís Gaspar, se iniciou o primeiro programa do Lugar aos Outros, um espaço especialmente criado e nas palavras do seu autor “…onde se divulga a escrita de quem ainda não chegou ao estrelato”.

Hoje cumpre-se o vigésimo programa onde na voz inconfundível do Luís Gaspar ouvir-se-á, mais uma vez, textos e poemas de, na sua maioria, autores de Blogues.

A disponibilidade e o carinho que se verifica em cada programa, de temas diversificados, traduzem o encantamento com que o autor do programa dialoga com as palavras.

É esse incentivo altruísta que quero hoje deixar aqui bem expresso, no agradecimento que faço ao Luís Gaspar, por todo o trabalho e empenho tido na divulgação dos trabalhos daqueles que a maioria das vezes e, como é o meu caso, “escreviam para a gaveta”.

Mas aproveito para realçar, que o Estúdio Raposa tem outros locais verdadeiramente surpreendentes.

No seu espaço da
TRUCA poderemos encontrar programas e temas variadíssimos…e super curiosos… como Os Postais do Oscar por exemplo…

segunda-feira, setembro 25, 2006

Abraço...

Na hora da despedida do Hora Absurda, o Henrique ofereceu “…Para vós em quem confio…” um poema que muito me sensibilizou.
E porque a Vida é constituída por ganhos e perdas, mais um espaço que nos deixou e cujo autor, mais virado para a prosa, nos consegue surpreender com a sua poesia.
Refiro-o hoje aqui, com um carinhoso…
Aguarela de JMTeles da Silva - Ao sabor da aragem


Ninguém me prometeu nada,
Porquê estar, então, desiludido?
Nunca ninguém me terá garantido
Que a vida ia ser assim... ou assada,
Ela apenas acontece, danada!

Vulgarmente, quando nós medramos
Lidando com muitas vidas de estranhos,
Imaginamos a nossa plena de igualdade
No que tange a sua aprazibilidade
Segurança, beleza, no fundo, felicidade.

Também conhecemos vidas estragadas
E presenciámos acidentes, mortes, partidas,
Crimes, traições, desgraças variadas
Com pessoas conhecidas e desconhecidas,
E até nós próprios levámos cacetadas

Mas a vida vai se compondo,
Refazendo, ou contrapondo,
Sempre esta teimosia de viver
De superar crises sem dissolver,
Desejar momentos livres de sofrer.

A desgraça cai no olvido,
Novos sonhos se vão acalentando,
Novas esperanças, novo conteúdo
Para continuar esperando, esperando...
Por que razão vivemos da espera sem sentido?

É da morte, principalmente, da morte
A espera em que estamos treinados
Esperamos morrer sem negativos legados,
Que os paridos e crescidos tenham mais sorte
Para continuar a sua espera mas abastados

Somos, na verdade, optimistas em demasia
O pessimismo só nos invade quando, olhando em redor,
Vemos que a vida, ao invés de ter melhoria
Pelas conquistas da ciência e da tecnologia,
Se torna cada vez mais um horror.

Claro que não toca a todos, dirão.
Sim, é verdade, mas envolve uma imensa multidão
Nada nem ninguém as livrará da privação.
É motivo para acabar dizendo, padrescamente:
Que Deus tenha piedade da sua gente!
(Poema "Pietá"(em verso)de Henrique Sousa)

quarta-feira, setembro 20, 2006

Voltarão as escuras andorinhas...

Pintura de Márcio Melo

Voltarão as escuras andorinhas
em teu balcão seus ninhos a pendurar,
e outra vez com a asa em seus cristais
brincando chamarão;

Mas aquelas que o vôo refreavam
tua formosura e minha felicidade ao contemplar,
aquelas que aprenderam nossos nomes...
Essas... não voltarão!

Voltarão as densas madressilvas
de teu jardim os muros a escalar,
e outra vez na tarde, ainda mais formosas,
suas flores se abrirão;

porém aquelas, coalhadas de orvalho
cujas gotas olhávamos tremer
e cair, como lágrimas do dia...
Essas... não voltarão!

Voltarão do amor em teus ouvidos
as palavras ardentes a soar;
teu coração de seu profundo sono
talvez despertará;

porém mudo e absorto e de joelhos,
como se adora a Deus ante seu altar,
como eu te quis... desengana-te.
Assim não te quererão!


(Poema de Gustavo Becquer)

segunda-feira, setembro 18, 2006

A Cor das Palavras...

Imagem de Susan Bee

Que cor trazem as palavrasse não for a cor do mar
a cor do céu e das estrelas
perante nosso olhar?

Que cor trazem as palavras
quando nos dizem que a desgraça
é trazida pelo braço
do homem que as devia amar?

Que cor trazem as palavras
quando relembram momentos cruéis
de olhares infiéis, de lava e cinza
no coração das crianças?

Que cor trazem as palavras
se não forem de esperança
num grito de Paz
de igualdade

Banindo todas as traições
todos os egoísmos
todas as ambições
de homens
de coração negro
de olhar manchado
pelo sangue
pelas feridas
de inocentes…

Que cor trazem os sonhos
Que povoam a mente…

domingo, setembro 17, 2006

Domingo

Imagem de Mítia

Que Deus me perdoe
Mas eu não gosto
De Domingos.
O Sábado ainda vá...
Mas quando acordo
Numa manhã de Domingo
(e isso acontece uma vez por semana)
Infalivelmente
É uma angústia
De não saber o que fazer
Com aquele dia...
Que coisa!
Mas falando com outra gente,
Surpresa e com graça,
Descubro que muita gente
Também tem problema
Com o Domingo
Será porque de repente
Fica tudo reunido?
Que se fica sem saber que falar?
Ou que de súbito se repara
Que não há nada para dizer?
DOMINGO.
Pois é.
Deus escolheu o Domingo
Para Ele descansar.
Fez bem.
Não sei é se ria
Ou se chore
Porque Domingo para mim,
É um nunca mais acabar!
É uma seca de bocejos
Que deviam ser beijos.
É um desfiar de olhadelas
Para o relógio de cuco
Que nunca mais cucaAs dez horas da noite,
Para ir para a cama
E aí...sim!
Acordar alegremente
Na Segunda-feira.

(Poema de Maria de São Pedro
in "Gato Pedra", pág.67)

sexta-feira, setembro 15, 2006

O presente perfeito.

No mundo virtual existem coisas extraordinárias. Pessoas que não nos conhecem mas que, através das nossas palavras e das nossas escolhas musicais, conseguem traçar um perfil de nós.
Este vídeo foi-me enviado por alguém que quis manter o anonimato e a quem desde já agradeço, dizendo-me que o escolheu, porque tinha a certeza de que eu o iria adorar.
Pois… é verdade, adorei-o.
Porque para além da música de Carl Orff que adoro, os Era são um dos grupos que mais gosto de ouvir e ainda porque gosto de quase todo o tipo de filmes épicos…

Fica o vídeo… que espero, gostem tanto como eu gostei…é só desligarem a música de fundo do blogue e apreciarem…





BOM FIM DE SEMANA


Nota: O vídeo foi actualizado em 2019 em virtude do vídeo original da postagem ter sido desligado.

terça-feira, setembro 12, 2006

Este Povo...

Foi com enorme prazer que recebi da Maria Azenha (Maat, como é conhecida na blogosfera) e a quem endereço o meu agradecimento profundo, o livro De Camões a Pessoa a Viagem Iniciática, da Editora SeteCaminhos.
Com obras plásticas de Ellys (Elisabete de Almeida) e poemas de Maria Azenha,
“…Este curioso tema fala-nos da alma do Pessoa e de um Portugal por ele aberto, mostrando um mundo repleto de mistérios e de interrogações…” lê-se no prefácio assinado por Luciano Reis.

Uma obra a não perder…porque aborda de uma forma diferente a epopeia dos Descobrimentos Portugueses…
Óleo sobre tela de Ellys

Este povo que sou eu,
Muito para além
No mar imenso onde há horrores,
Enfrenta o medo, a imensidão,
Para lá dos Bojadores.

Viaja,
Enigmático,
Em mar revolto
Sempre assustador,
Mas cada vez mais perto do porto.

Cumpre na Terra, mais do que o céu.
Cumpre o Infinito,
Este povo, que é todo meu,
Ovo Alado que se soltou dum grito!

(Poema "O Mostrengo" de Maria Azenha
in De Camões a Pessoa “a Viagem Iniciática”, Editora SeteCaminhos)


(Em tempo: Este poema de Maria Azenha e a pintura de Elisabete de Almeida, foram escolhidos para figurar no portal de Mhario Lincoln Brasil publicado hoje, 14 de Setembro)

sexta-feira, setembro 08, 2006

O Ritual

Há muito que desejava tirar uma fotografia daquele lado da praia quando o Sol beija o infinito em todo o seu esplendor.

Desolada, apercebi-me mais uma vez, que a velhinha Zenit tinha ficado em casa pendurada numa cadeira qualquer.

Deixei-me cair na areia embalada pelo som das ondas em maré vaza.

Foi quando o vi.

Caminhava devagar, de cabeça levantada, todo vestido de negro e chapéu da mesma cor na cabeça, como se nada existisse à sua volta.

- Estranha figura, pensei…

Parou a escassos metros de mim, mas creio que não me viu.

Como se de um ritual se tratasse, estendeu a manta que trazia debaixo do braço cuidadosamente na areia, colocando-lhe em cima um objecto que não consegui identificar. Nos segundos seguintes deixou-se ficar a olhar demoradamente esse objecto e depois encaminhou-se para o mar.

Tive um sobressalto perante a firmeza do seu andar mas, quando ele finalmente parou em cima da rocha e me apercebi da sua voz, confesso que a minha curiosidade aumentou.

O ruído que vinha do mar e o vento que entretanto se tinha levantado abafavam as suas palavras. Foi quando começou a levantar os braços e a sua voz se tornou mais clara, que me apercebi que declamava!

Ao longo de segundos em que a sua voz, como que soluçando desafiava o mar que entretanto quase lhe banhava os pés, senti aquelas palavras como se de uma oração se tratasse.

Repentinamente voltou-se, dirigiu-se à manta em passos firmes pegando no objecto que lá deixara e subiu novamente para o mesmo rochedo.

A minha curiosidade estava ao rubro e, pondo-me de pé, confesso que me aproximei um pouco, quando percebi que ele espalhava algo que ia retirando da caixa em direcção ao mar, dizendo palavras entrecortadas em soluços.

Os momentos seguintes foram de um tal silêncio que nem o mar se fazia ouvir.

Quando finalmente abandonou o rochedo e se sentou na manta, ganhei coragem e dirigi-me a ele.

- O senhor está bem? Precisa de alguma coisa? – perguntei-lhe um pouco a medo.

- Agora estou bem, fiz o que tinha que ser feito. - responde-me numa voz quase sussurrante, acrescentando -
Peço perdão se a incomodei.Que não, que não me tinha incomodado, antes pelo contrário, tinha sido um momento único, respondi-lhe mas com aquela ansiedade de querer saber mais.

Foi quando, apontando para o chão, me convida a sentar ao lado dele e me conta a história de um amor com mais de 50 anos entre ele e a esposa estrangeira, que abandonou tudo e o seguiu contra a vontade da família.

Sentindo-se velho e doente, receava não cumprir a última vontade da esposa, pelo que tinha resolvido naquela tarde cumprir a palavra que lhe tinha dado: atirar as cinzas dela ao mar, lendo o seu poema favorito, que tinha ela própria um dia recitado na língua materna no funeral do Pai.

Baixinho, como numa oração, voltou a recitar as palavras que eu antes não conseguira ouvir:
Pintura de Gustave Courbet

"Toda esta noite o rouxinol chorou,
Gemeu, rezou, gritou perdidamente!
Alma de rouxinol, alma da gente,
Tu és, talvez, alguém que se finou!

Tu és, talvez, um sonho que passou,
Que se fundiu na Dor, suavemente...
Talvez sejas a alma, a alma doente
D’alguém que quis amar e nunca amou!

Toda a noite choraste... e eu chorei
Talvez porque, ao ouvir-te, adivinhei
Que ninguém é mais triste do que nós!

Contaste tanta coisa à noite calma,
Que eu pensei que tu eras a minh'alma
Que chorasse perdida em tua voz!... "


Quando me despedi tinha a voz embargada de emoção por ouvir um dos poemas de Florbela Espanca ditos naquele momento tão especial, mas percebi pelo olhar cheio de serenidade do velho senhor que ele tinha realmente cumprido a sua missão.




Há momentos que não se esquecem. Este foi um deles…

terça-feira, setembro 05, 2006

Lique...ou Alice D...

Quando acordo pela manhã e já de chávena de café fumegante na mão, olho pela janela da cozinha, de onde avisto uma capela, construída em cima de rochas em pleno mar, um momento tão pessoal e precioso para mim, recordo lugares, pessoas e sentimentos, com um misto de alegria e nostalgia por a Vida me ter concedido o grato privilégio de por eles ter passado.
És uma dessas pessoas, as tuas palavras e forma de estares na blogosfera, sempre me encantaram, a ti dedico este momento, para que saibas, que todos aqueles que te estimam e admiram, esperam por ti
aqui ou noutro local qualquer…
Imagem de autor desconhecido

Rompe a manhãHá cheiro a rosmaninho,
a lilases e a rosas, minha amiga
e a terra, respirando de mansinho,
fez abrir um poema em cada linha.

Aqui bem perto canta um passarinho,
e cantará até ao sol se pôr.
Que perfume tão doce neste caminho,
que alegria e que luz sarando a dor!

Os teus olhos cheios de beleza
fizeram esta manhã maravilhosa,
que enche tudo de luz e tudo encanta...

E chego a crer que a própria natureza,
fez abrir nos teus lábios uma rosa,
e te colocou música na garganta.

domingo, setembro 03, 2006

Momentos...

Imagem de Julian Hill



Creio que, todos os que escrevemos na blogosfera, sentimos uma alegria interior e um certo orgulho pessoal, quando as palavras que escrevemos, são apreciadas e amadas por outrem.

E ainda mais felizes ficamos, quando aqueles que apreciaram as palavras ditadas do mais fundo da nossa alma, são pessoas conhecedoras da profundeza que a palavra traz no ser humano.

Foi portanto, com alegria, que vi a referência a este blogue, que também é vosso, na página do
Mhario Lincoln Brasil, a quem endereço o meu reconhecimento, por me ter escolhido como convidada.

Como já uma vez referi, a blogosfera é realmente uma forma espantosa de partilha.

É a todos os que me acompanham, e que são a razão da existência deste blogue, que quero deixar o meu especial agradecimento, porque realmente é a vossa força que me faz continuar.


Obrigada

sexta-feira, setembro 01, 2006

Passemos...




Passemos, tu e eu, devagarinho,
Sem ruído, sem quase movimento,
Tão mansos que a poeira do caminho
A pisemos sem dor e sem tormento.

Que os nossos corações, num torvelinho
De folhas arrastadas pelo vento,
Saibam beber o precioso vinho,
A rara embriaguez deste momento.

E se a tarde vier, deixá-la vir...
E se a noite quiser, pode cobrir
Triunfalmente o céu de nuvens calmas...

De costas para o Sol, então veremos
Fundir-se as duas sombras que tivemos
Numa só sombra, como as nossas almas.
(Poema de Reinaldo Ferreira)

Art de Alex Krivtsov